terça-feira, 21 de setembro de 2010

Travessia da Serra Fina - 1º Tentativa


A travessia da Serra Fina dispensa apresentação de tão clássica que é. Em meados de março, ao olhar o calendário, pensei que o feriado de corpus Christi seria uma ótima data para realizar, ou melhor, tentar realizar essa fantástica travessia.
Lancei o convite para os demais integrantes dos SL’s. Não demorou muito e a ala perrengueira dos Sem Limites aceitou de pronto. Vivi, Becheli, Wel, Bruno, Danilo, Neilor e um convidado especial o Mario, amigo carioca do Well, disseram que estavam nesta incursão.
Foram dias e dias de muitos emails para organizar a travessia. Organizar em nosso dicionário não significa estudar relatos e fazer planos mirabolantes, mas apenas definir se alguém quer dividir barraca ou preparar o jantar em dupla para diminuir o peso, pois o gostoso da trilha é saber se virar no caminho, tomar alguns perdidos, etc.


Finalmente chegou a semana do feriado e a previsão não era das mais animadoras, mas mesmo assim decidimos seguir já que não tínhamos um plano B e ninguém estava querendo passar o feriado fazendo o que sabemos fazer melhor, beber como se não houvesse amanhã.
Na segunda-feira da semana do feriado nosso amigo Well teve um problema com um de seus funcionários e seu esquema de guerra para o feriado foi para o vinagre. Ou seja, teve que ficar trabalhando e cancelou sua ida. Seu amigo Mario também cancelou.
Mesmo com as primeiras baixas, não desanimamos e na quarta-feira partimos de São Paulo eu, Vivi e o Becheli. Neilor enfrentou uma longa viagem até Passa Quatro e o Bruno e o Danilo saíram de SJC.
A viagem para Passa Quatro foi tranqüila. Chegamos por volta das 2h da manhã e os demais companheiros já estavam nos esperando. Nossa intenção era subir na madrugada mesmo para a toca do lobo, mas diante do horário decidimos subir logo que os primeiros raios de luzes iluminassem nossas caras. Assim, dormimos todos no coreto da cidade.
Por volta das 5 da manhã acordamos e fomos até a casa do Edinho que nos levaria até a toca do lobo em seu caminhão. Chegamos ao início da trilhas às 7h e depois de quinze minutos partimos.
Cruzamos o rio, como sabíamos que haveria água na metade do caminho, não enchemos nossos reservatórios de água. O Becheli e o Bruno seguiram na frente e eu juntos com os demais ficamos beliscando algo, já que não tínhamos comido nada.
Ao cruzar o rio tem-se inicio á subida. O desnível da toca do lobo até o Capim Amarelo é de aproximadamente 1000 mts, mesmo com a cargueira pesada, não achei tão pesada quanto à subida do Pico do Corcovado em Ubatuba.
Subimos em um ritmo tranqüilo já que sabíamos em cerca de 4 ou 5 horas chegaríamos a nosso destino. A subida sem visual algum virou mais um treino do que uma curtição, mas só o fato de estar longe da loucura de São Paulo já era um alívio.
Chegamos ao ultimo ponto de água do dia ás 8h40. Este ponto é óbvio, está no segundo topo e dá para escutar a água caindo de uma laje de pedra assim que você se aproxima dela. A direita da clareira está à trilha que dá para o líquido sagrado.

Neste ponto encontramos com nossos amigos que partiram na frente e o Becheli por estar mais leve disse que aumentaria o ritmo para arrumar um bom local para armar nosso acampamento, ou seja, por uns instantes ele deixou de ser Sem Limites e passou a ser Performance rs. Sendo assim, combinamos de reagrupar novamente no alto do capim amarelo.
Água abastecida, hora de continuar a caminhada. O Danilo disse que tentaria acompanhar o Becheli. Eu e os outros não estávamos com pressa alguma, já que chegar mais cedo significaria ficar mais tempo sem fazer nada.
Depois deste ponto cada um seguiu em seu ritmo, Becheli e Danilo fazendo corrida de aventura e eu, a Vivi, o Neilor e o Bruno curtindo a subida, ou melhor, curtindo as Brumas de Avalon.
Às 11h50 chegamos ao ombro do Capim Amarelo. Neste trecho há uma boa área de camping. Parei para retomar o fôlego, mas não fiquei muito tempo parado, pois sabia que não faltavam mais que 20 min para o destino final.
Segui em frente sem esperar os demais companheiros que tinham ficado para trás. Na verdade não quis esperar muito, pois estava ansioso para chegar à melhor parte do dia. O trecho de Escalaminhada.
Entre um trecho e o outro de escalaminhada olho para trás e vejo a minha grande amiga Vivi toda sorridente e seguimos juntos até o topo do capim amarelo. Chegamos exatamente ás 12h10, com quase cinco horas de subida.
Como o Bruno e Neilor estavam para trás decidimos procurar pelo Becheli e o Danilo, mas para a nossa surpresa não os encontramos, ou seja, eles tinham seguido para o próximo ponto de acampamento, o Maracanã.
Como não havíamos dormido bem na noite anterior, eu e a Vivi só toparíamos seguir se o Neilor e o Bruno assim quisessem. 
Esta área de camping parecia mais a 25 de março de tanta gente que tinha. Não havia mais espaços bons para montar nossas barracas e cada um ficou espremido em um canto. Depois de um tempo chega o Neilor e perguntamos se queria continuar até o Maracanã e respondeu que não.
Depois de uns minutos chega um grupo que conhecemos no caminhão que nos levou até o inicio da trilha e disse que o Bruno estava mais atrás e aparentava estar bem cansado. Decidi ir até ele para ver se precisava de ajuda. Quando cheguei ao ultimo lance de escalaminhada encontrei o guerreiro do Bruno chegando. Ao perguntar se queria continuar até o maracanã, ele respondeu que preferiria ficar acampando ali mesmo.
Acampamento montado. Era hora de preparar nosso almoço/jantar. Antes de começar os preparativos para o banquete chega nosso amigo Pepe, um sujeito impar, gosta de andar sozinho, não se deixa fotografar (fala que é feio demais), más sempre faz alegria da galera contando seus causos nestes mais de 20 anos de pernada.
Antes do jantar ficar pronto o Neilor abriu uma garrafa de catuaba e eu não deixei por menos e abri uma de vinho para comemorar.

Eu e a Vivi preparamos suculentas batatas com bacon e o Neilor um belo de um prato arroz com lingüiça e miojo. E assim passamos o resto da tarde bebericando e escutando as histórias do Pepe. O Brunão após um merecido cochilo apareceu para participar da conversa.
Mesmo após comer as batatas ainda estava com fome e fui esquentar um feijão. Como a panela não tinha cabo e precisava mexer para que o feijão não queimasse peguei um saquinho de pano que a Vivi carrega as tralhas dela de cozinha e quase, ou melhor, botei fogo nele kkkk. Rapidamente apaguei.
O dia ia terminando e temperatura caindo. Após escurecer a chuva que ensaiou o dia todo resolveu cair. Todo mundo para barraca e fim de conversa.
Na madruga acordei para tirar a água do joelho e me deparei com um céu totalmente aberto. A lua alumiava toda a serra e consegui enxergar todo contorno da Serra Fina. Pensei: “ótimo, amanhã o tempo estará aberto.” Doce ilusão.
Na manhã seguinte o tempo continuava fechado. Ainda na barraca, eu e a Vivi preparamos nosso café da manhã. Após tomar nosso desjejum, a Vivi foi conversar com os demais companheiros e eu fiquei arrumando as tralhas na barraca. Instantes depois ela voltou e disse que o Pepe já havia partido e o Neilor e Bruno desistiram, pois não tinha visual algum e não tinha sentindo continuar a travessia assim.
Terminamos de arrumar nossas coisas e partimos por volta das 9h30. A trilha que segue para a pedra da Mina continua ao lado esquerdo da área de acampamento.
Como todo dia anterior a trilha é óbvia e não tem como se perder. Em cerca de uma hora de caminhada chegamos ao maracanã e encontramos a área vazia, ou seja, nossos amigos já tinham partido. Porém, na continuação da trilha, pregado em uma árvore, vejo uma folha de papel. Antes de chegar perto já tinha certeza que se tratava de uma mensagem para nós e não deu outra. O Becheli estava avisando que seguiram para a Pedra da Mina e que encontraria conosco lá.
Seguimos para a Pedra da Mina novamente sem pressa alguma. Andando tranquilamente já que não tinha necessidade de pressa.
No meio da crista, por volta do meio dia, encontramos com nossos dois companheiros que haviam feito uma pausa para o almoço. Contamos para eles que os demais haviam desistido e agora era conosco.
O caminho até a pedra da Mina é bem sinalizado pelos totens, portanto não há dificuldade alguma de navegação. Andamos por quase duas horas até chegar ao riacho que fica próximo a base da pedra da Mina.

Decidimos que acamparíamos por ali mesmo, pois além pegar o cume lotado, tínhamos certeza que o tempo fecharia mais ainda e não queríamos correr esse risco.
Após montarmos o acampamento, eu e a Vivi ao lado do riacho e o Becheli e Danilo lá em cima antes do riacho, começamos a preparar nosso jantar. Cardápio: Miojo com peito de frango desfiado. Ah! Claro que antes mandamos ver na mortadela que trouxemos.
Ficamos ali conversando um pouco até que começou a cair uma fina garoa e os dois subiram para suas barracas, enquanto eu e a Vivi continuamos ali tomando um vinhozinho.
Não demorou muito e fomos dormir. De madrugada acordo com as rajadas de vento que sacudiam a minha barraca. Nesta hora percebi que valeu a pena investir na minha nova barraca, uma Marmot Limelight, pois se eu tivesse com a Nautika Kapta certamente estaria destelhado.
O dia amanheceu chuvoso, conversando com a Vivi, já tínhamos em mente que o melhor seria abortar, pois a visibilidade que era ruim nos dias anteriores estava pior ainda.
Por volta das 9h os nossos companheiros chegaram até nossa barraca e falaram que o melhor seria abortar. Como eles estavam prontos e nós não. Eles seguiram e arrumamos lentamente nossas coisas.
Ao terminar de arrumar nossas mochilas passaram os guias da Pisa Trekking e seguimos caminhando na companhia deles.
A subida da pedra da mina foi uma sensação incrível. A tempestade de vento desencadeou a adrenalina em nossos corpos e cheguei a comentar com a Vivi que eu continuaria fácil se soubesse atravessar o temido vale do Ruah sem visibilidade.
Em uma hora chegamos ao topo da Pedra da Mina. Além de nossos amigos, havia um grupo de montanhistas que já estava disposto em passar o dia lá e esperar o tempo melhorar para descer pelo Paiolinho, pois estava impossível achar a trilha naquele tempo.
Como os guias da Pisa conheciam bem o caminho, eles resolveram desarmar o acampamento e seguir morro abaixo.

A descida para a fazenda Serra Fina foi cansativa. Sem visual algum, só pensávamos no banho quente que poderíamos ter ao final do dia em alguma pousada da região.
Após descer muito, chegamos à fazenda Serra Fina por volta das 5 da tarde. Mas a pernada ainda não acabou, tínhamos que andar mais uns 3 km até um bar para conseguir um resgate.
Chegamos ao bar do Sival sem a luz do dia e fomos recebidos por sua esposa, que nos ofereceu um café quentinho e abriu o bar para que pudéssemos tomar uma boa cachaça.
Após um tempo chega o Sival em sua poderosa Kombi. Ele tinha ido levar parte dos clientes da Pisa e agora faria outra viagem para levar os demais clientes. O telefone do Sival é (31) 9176-9925.
Enquanto esperávamos a nossa vez de ir para a cidade, a esposa do Sival, muito caridosamente, ofereceu comida para todos e ainda de quebra umas porções de lingüiça caseira defumada. Uma delícia!
Por volta da meia noite, chega o Sival e disse que somente nos levaria no dia seguinte, pois estava muito cansado e estrada estava ruim demais. Para que todo mundo não ficasse ao relento ele ofereceu sua casa da frente, que estava desocupada, para que todos dormissem lá.
Enquanto estávamos arrumando um melhor lugar dentro da casa para esticar nossos isolantes e dormir, chega nosso anfitrião com duas belas porções de batatas fritas. Impressionante a receptividade das pessoas do campo.

O dia clareou e partimos para a cidade. Entramos em nosso carro e seguimos para Cachoeira Paulista filar um almoço na casa da mãe do Danilo. Nem bem engolimos a comida, nos despedimos dos pais do Danilo e seguimos viagem. Paramos em SJC para deixar o Danilo e depois seguimos direto para São Paulo.
Infelizmente a primeira investida na Serra Fina esse ano não pode ser concluída. Mas como somos bons guerreiros, já marcamos a próxima incursão, 07 de setembro de 2010.

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