Para o feriado da páscoa estávamos programando uma cicloviagem pela Ilha do Mel, Superagui, Ilha do Cardoso e Ilha comprida. Estavamos com o roteiro totalmente pronto, o que era uma evolução quando se trata de uma trip organizada por mim e pela Vivi.
Por isso passamos a pedalar de duas a três vezes por semana na cidade de São Paulo para ganhar ritmo. Ocorreu que em um desses treinamentos houve uma fatalidade. Uma motorista desligada entrou na contra mão e me atropelou. O resgate foi chamado e os bombeiros fazendo uma análise bem meia boca, falaram que tinha apenas uma pequena luxação na mão, pois estava movimentando-a normalmente.
Como tinha programado uma trilha de bike para o final de semana, após dois dias da fatalidade resolvi ir ao médico para tirar uma radiografia e para a minha infelicidade, ficou constatado que o quinto metarcarpo da minha mão esquerda estava quebrado e por muito pouco não partiu ao meio. Enfim, 3 semanas com gesso e a cicloviagem cancelada.
Como não tínhamos nenhum plano B, passamos a procurar um roteiro que se enquadrasse em minhas limitações temporárias. Pesquisa dali, procura daqui e tive a grande idéia de sugerir a travessia Lapinha-Tabuleiro. Ao pesquisarmos os preços dos transportes até lá já desanimamos. Para ir e voltar de ônibus sairia cerca de R$ 260,00.
Nisto recebemos um email do Luis dizendo que se a turma dele não fechasse a travessia da ponta da joatinga iria conosco. Aguardamos ansiosamente a confirmação dele, mas eu já estava disposto a ir com meu carro até lapinha mesmo com uma mão quebrada.
Enfim, na segunda-feira da semana do feriado ele confirma presença. Marcamos para sair de São Paulo na quinta ás 9 horas da manhã. Indo para o local de encontro o Luiz liga e avisa que tinha esquecido que neste dia da semana era rodízio do seu carro e que esperaria até as dez. Como minha casa fica perto da Serra da Cantareira e iríamos pela estrada da Roseira para cortar o transito, já que a Fernão Dias ainda continua com um trecho interditado no sentido BH, eu e a Vivi fomos até minha casa.
Busquei a Vivi em casa e ficamos esperando o Luis chegar. Por volta das 11h ele chega e partimos para o nosso destino. No caminho paramos na cidade de Cambuí para almoçar e logo retornamos para estrada. Durante o caminho o Neilor, que mora em BH, confirmou presença na pernada, mas como estava no Rio e disse que só chegaria a Santana do Riacho por volta das 8h30 da manhã de sexta. Após alguns perdidos na região metropolitana de BH, chegamos a Santana do Riacho por volta das 23h.
Decidimos ficar na parte alta da cidade onde fica a sede da prefeitura, pois ficaria mais próximo de Lapinha. Ao contrário da parte baixa, que é conhecida por Santana do Cipó, está parte não tem muita estrutura. Ficamos hospedados na simpática pousada 3 corações pelo preço de R$ 25,00 com direito a café da manhã (tel. 31 – 3718-6390 ou cel 31 – 83729866, Willian).
Deixamos nossas coisas no quarto e seguimos até a bucólica praça para tentar comer algo. Infelizmente não havia nada para comer e percebemos que deveríamos ter feito nossa ceia na parte baixa, já que lá havia muitos restaurantes. Paciência! Era o que tinha para janta.
Comemos qualquer porcaria e tomamos umas cervejas e uma pinga com mel no bambu e fomos dormir.
Levantamos, tomamos um belo de um banho e fomos tomar nosso desjejum. Enquanto esperávamos o Neilor fizemos contato com nosso resgate. O dono da pousada indicou o Wando (tel 31 – 8503-9032).
Inicialmente fechamos o valor de R$ 40,00 para levar até Lapinha e R$ 160,00 para o resgate em Tabuleiro. Estava ótimo demais. Neste ínterim, chega o Neilor e prontamente arrumamos nossas mochilas no “grande” porta-malas do Uninho do Wando e seguimos para Lapinha.
Ao chegarmos a Lapinha, o Wando veio com uma conversinha de que tinha passado o preço errado do resgate em Tabuleiro e queria aumentar o valor em R$ 70,00. Princípio de confusão e chegamos ao valor de R$ 200,00.
Ás 10h30 iniciamos a caminhada e logo encontramos um grande grupo de pessoas que estava fazendo a travessia. Neste grupo tinha de tudo mulheres, crianças, idosos. Poucos minutos de caminhada e deparamos com um lago. Como ninguém queria molhar as botas já no começo da trilha paramos e as tiramos. Aqui perdemos um bom tempo, não pela dificuldade da travessia, mas sim porque estava muito engraçado ver o grupo atravessando o lago. Alguns deles optaram por atravessar o lago pela “balsa” charrete pelo simbólico valor de R$ 1,00.
Colocamos nossos calçados e seguimos enfrente em direção a uma cachoeira. O grupo virou a direita margeando o lago já que iriam pelo caminho mais fácil. Nós queríamos ir pelo pico do Breu.
Chegamos à cachoeira que forma dois belos poços para mergulho. Como eu estava com o braço engessado e ainda não tínhamos caminhado direito ninguém quis entrar. Subimos o morro sempre usando como referência os canos de água.
No final da subida pegamos a trilha da esquerda e novamente a esquerda em uma bifurcação logo a frente. Logo cruzamos com o rio que forma a cachoeira que passamos a pouco tempo. O relógio marcava 11h15, neste instante percebemos o quanto tempo demoramos para atravessar o lago. Mas valeu a pena, pois estava engraçado ver aquelas pessoas atravessarem.
Seguimos caminhando por um trecho plano e com uma cachoeira ao fundo em nossa direita. Em dez minutos chegamos à base do suposto pico do Breu, que os locais tinham indicado (digo suposto porque explicarei mais adiante a história do Pico do Breu).
Neste trecho a trilha é bem batida e seguimos contornando o suposto Breu pela esquerda. Ao meio dia cruzamos com uma cerca e em mais 10 minutos depois de subir e descer um morrinho passamos por um rio. Após uma leve subida, deparamos com uma casa abandonada a nossa esquerda.
Logo chegamos a um platô que dá acesso ao cume do suposto Breu. Deixamos nossas mochilas em um canto e fizemos o ataque. Subimos rapidamente e ás 12h30 chegamos ao cume e percebemos que aquele não era o ponto mais alto da Serra. Pausa para fotos e ficamos contemplando o visual da lagoa por uns dez minutos, como o Luis não quis subir decidimos não demorar.
Ao encontrarmos com o Luis ele mostrou que o GPS apontava aquele morro como sendo o Morro do Cruzeiro (realmente tinha uma Cruz lá em cima) e que o Breu estava a 4 km dali.
Fizemos uma pausa rápida para comer umas frutas e guloseimas e logo seguimos na procura do Breu. Seguimos em direção nordeste por uma trilha bem precária que sumia toda hora. Como a vegetação era rasteira seguimos visualmente e com as informações do Gps.
Ás 13h30 cruzamos com uma cerca, o Gps dava que estávamos andando paralelamente a trilha plotada nele. Como havia um grupo seguindo naquela direção e ali não havia trilha decidimos continuar assim mesmo. Porém, após 1 hora e 15 minutos percebemos que estávamos perdendo altitude e cada vez mais longe do caminho que tínhamos no GPS.
Uma breve reunião para estudar o caminho e percebemos que o caminho que tínhamos que percorrer fazia uma curva de 90° antes da cerca. Pelo GPS estávamos a 200 metros da trilha só que ela estava em cima e nós embaixo.
Nós tínhamos duas opções voltávamos até a cerca ou escalávamos um paredão rochoso para chegar à trilha. Eu com o braço engessado adivinha a minha opinião? É claro que escalar o paredão rochoso kkk.
E lá fomos costear o paredão para achar o melhor caminho para a nossa breve escalaminhada. Subimos sem muitos problemas e as 15h20 chegamos ao topo do morro que dá vista para o famoso Bico do Breu. Fizemos uma pausa para mais um lanche.
Ali ficamos uns minutos apreciando o visual e avistamos uma tempestade lá longe que vinha em nossa direção. Diante deste novo fato decidimos abortar a escalada do Pico do Breu.
Contornamos o Breu pela direita e fomos perdendo altitude. Não demorou muito e a chuva nos alcançou. Pausa para todo mundo colocar anorak. Como eu já estava com o meu, fiquei estudando o melhor caminho para descer.
Cruzamos um cerca e seguimos em frente, sem trilha somente guiado pelo GPS. Em determinado momento, percebemos que o melhor a fazer era esquecer GPS e visualizar um ponto de referência e fazer nosso próprio caminho.
Olhamos no GPS vimos que próximo a nós o rio Paraúnas formava uma prainha. Lá de cima avistamos e seguimos na direção dela. Ao chegarmos próximo ao rio encontramos uma cerca. Seguimos a pela direita até encontrar um melhor ponto para atravessar o rio.
Ao chegar próximo a prainha o rio faz uma curva e a cerca segue enfrente. Logo achamos um ponto para atravessar a cerca e vimos uma trilha que dava no melhor local para atravessar o rio.
Pegamos a trilha e voltamos em direção ao rio. Ela leva ao melhor local para atravessar de uma margem para outra. Basta pular sobre as pedras e pronto! Chegamos a prainha as 17h45. Perguntamos o caminho para a casa da Dona Benta, já que o GPS estava indicando a direção errada agora.
Segundo o guia do grupo estava acampado na prainha era só seguir enfrente na trilha principal. Logo encontramos uma placa informando que nosso destino estava a 1 km.
Por estar nublado o tempo, a noite caiu rapidamente e logo passamos a andar no escuro. Chegamos à fazenda da Dona Benta às 18h20. Fomos informados que ela estava cobrando R$ 10,00 pelo camping e mais R$ 12,00 pelo prato de comida. Como estávamos cansados da caça ao breu, decidimos comer uma comidinha caseira mesmo ao invés de preparar nosso suculento miojo rs.
Após o jantar, fomos montar nosso acampamento. O local estava lotado já que havia vários grupos estavam fazendo a travessia e como eles foram pelo caminho tradicional (sem passar pelo Breu) todos já estavam devidamente instalados, sobrando pouco espaço para armar nossa barraca.
Barraca montada e agora era a hora do banho e do vinho com queijo. Ficamos conversando até quase às 22h e fomos todos dormir. Durante a noite toda a chuva não deu trégua.
Acordamos por volta das 6h30 e ainda chovia. Só conseguimos sair da barraca ás 7h30 quando a chuva deu uma parada. Desmontamos rapidamente o acampamento e fomos tomar café.
Nem bem terminamos de desmontar as barracas e a chuva voltou cair, mas desta com mais intensidade. Ficamos aguardando até ás 10h20 quando ela deu uma pequena trégua e iniciamos a caminhada.
Seguimos pela a estrada que sai de frente e na primeira bifurcação tomamos a direita, pois essa era a indicação da Dona Benta. Porém o GPS indicava que deveríamos seguir para a esquerda. Ficamos em dúvida se seguíamos a sugestão da dona Benta ou do GPS. Neste ínterim, chegou um grupo e informou estavam indo pelo caminho da direita e decidimos segui-los.
Logo cruzamos com um rio, atravessamos o por uma ponte de pedra. Seguimos caminhando por uma trilha que mais parecia uma estrada. Logo cruzamos uma cerca depois de um riacho viramos à esquerda.
A garoa não dava sinais que iria embora tão cedo, mas começamos a assar de baixo de nossos anoraks e decidimos tira-los. Fiz uma proteção bem meia boca para não molhar meu gesso e segui em frente.
Atravessamos mais uma parteira e seguimos em frente e na bifurcação tomamos o caminho da esquerda subindo levemente até encontrar uma porteira a nossa direita que dava para um pasto. Entramos nela e passamos a caminhar no meio do pasto até sair em outra porteira que dava de frente para um rio.
Como já eram 12h35 e a garoa tinha dado um tempo resolvemos fazer nossa pausa para um merecido lanche. Cruzamos o rio e sentemos sobre uma laje rochosa. Após 30 minutos retornamos nossa caminhada.
Ainda sobre as rochas seguimos à direita em direção aos postes de energia. Após chegar aos postes fizemos uma curva acentuada para a esquerda em direção ao vale. Neste momento a chuva tinha parado, porém na decida para o vale era sobre as pedras que estavam um verdadeiro sabão.
Descemos em direção a mais uma porteira para logo atravessar outro rio por cima de um tronco de árvore caída. Nesta hora ocorreu um acidente.
Como o grupo era grande, ainda tinha pessoas descendo em direção ao rio, nisso uma menina do grupo que estávamos acompanhando levou um rola e torceu o tornozelo. Fim de trilha para ela.
Ficamos aguardando bom um tempo o pessoal improvisar uma maca para trazer ela. Nesta hora, decidimos seguir em frente sem o grupo, já que tinha muitas pessoas ajudando. Depois de atravessar há uma boa área de camping. A direita desta área sai a trilha que leva a casa da dona Maria. Pelo GPS faltavam mais ou menos dois quilômetros.
Chegamos ás 14h30 na casa da Dona Maria. Como estava cedo fomos procurar o melhor lugar para acampar, enquanto o Luis foi perguntar quanto ela cobrava a comida.
Depois de alguns minutos o Luis informou que para acampar ela não cobrava nada, mas que pela janta eram R$ 15,00. Cardápio: arroz, feijão, carne de panela, fritas e salada.
Como tínhamos comida em nossas mochilas eu, a Vivi e o Neilor decidimos fazer nosso jantar, principalmente porque tínhamos uma lingüiça portuguesa que já poderia não estar própria para consumo. Meu cardápio e o da Vivi: miojo sabor calabresa e como mistura lingüiça portuguesa frita. O do Neilor aquele miojo de copinho que não sei escrever o nome kkkk.
Enquanto estávamos comendo chegou Luis com um prato e uma panela com um pouco de mistura para nós. Ou seja, nosso jantar foi uma verdadeira fartura.
Pouco antes de anoitecer subimos para a casa da dona Maria para prosear um pouco. Não parava de garoar e mesmo assim Neilor e eu ficamos conversando com o “líder” do grupo que veio conosco fora da casa mesmo.
Tomamos nossa ultima garrafa de vinho e depois passamos a tomar a pinga produzida pelo marido da dona Maria. A Vivi logo foi dormir e nós ficamos.
Após muitas rodadas decidimos que era a hora de descer, pois aquilo, como diria outro grande filosofo sem limites, não teria fim.
Eu e o Neilor descemos trançando as pernas juntamente com uns malucos. Sendo que um deles estava descalço e tocando gaita (é claro que o grau dele estava muito maior que o nosso). E assim descemos ora na trilha ora saindo dela rs.
Quando eu e o Neilor estávamos tomando a trilha errada para a nossa área de camping, surgiu uma voz do escuro avisando que estávamos errados. Adivinhe quem era? O maluco da gaita rs.
Ao chegar à área de acampamento ainda tive tempo de aprontar mais uma rs. Estava quase entrando na barraca quando o Neilor me avisou. “Fábio, essa não é sua barraca” rsrs Caímos na gargalhada e seguimos para a nossa direção correta. Ainda ficamos conversando um pouco, já não chovia mais. O tempo abriu um pouco dando para enxergar as luzes de BH. Mas logo fechou e a chuva caiu forte novamente. Nos recolhemos e fomos dormir.
Acordamos cedo novamente más a chuva que caia não dava ânimo algum para sair da barraca. Novamente por volta das 7 da manhã ela parou.
Tomamos nosso café da manhã e passamos a deliberar qual caminho seguiríamos, já que a chuva tinha atrasado nosso cronograma novamente e o Neilor tinha horário para chegar a BH para pegar o ônibus para o Rio. Tínhamos a opção de seguir a trilha para a parte alta da cachoeira e descer por uma trilha que saia de lá ou descer pelo caminho tradicional.
Como tínhamos notícias que um grupo não conseguiu atravessar o rio devido à forte correnteza, optamos por descer pelo tradicional e tentar chegar à cachoeira pela parte baixa.
Subimos para acertar nossa conta com a dona Maria, mesmo sabendo que ela não cobrava pelo camping, decidimos deixar R$ 10 cada pela hospitalidade. Ao chegarmos a casa dela, fomos recebidos com um café quentinho e um delicioso queijo branco pelo marido dela o Sr. José Maria, sujeito simpático e de boa prosa (tel deles 31 – 9652-9156).
Iniciamos a caminhada somente às 10h da manhã. A trilha que segue da propriedade da dona Maria até a portaria do parque é bem demarcada e sem maiores problemas. Somente nas lajes rochosas pode confundir um pouco, más basta seguir as sujeiras das mulas.
Chegamos ao mirante da cachoeira ás 11h30. Tiramos umas fotos e seguimos nosso destino, saindo do parque às 12h15 e caminhamos lentamente em direção a tabuleiro onde encontraríamos com nosso resgate, que já estava esperando em frente a um bar.
Não deu outra paramos e comemoramos o sucesso da trip. Após algumas cervejas seguimos em direção a Santana do riacho já que a jornada era longa. Porém, cinco minutos após entrarmos no carro, o Neilor se deu conta que tinha esquecido sua carteira no bar e lá fomos nos resgatar a carteira dele rs. No caminho para Santana, o Neilor fez o motorista parar para apresentar a estatua do Juquinha. Juquinha era um famoso caminhante da serra do cipó e colhia flores no campo para dar aos viajantes que encontrava pelo caminho, reza a lenda que ele morreu duas vezes.
Chegamos a Santana por volta das 17h e o Neilor se despediu rapidamente e voou para BH, enquanto nós fomos tomar um belo banho e jantar na pousada 3 corações antes de seguir para São Paulo numa cansativa viagem de mais de 12 horas. O jantar e o banho nos custaram R$ 12,00.
Enfim, mesmo tendo ocorrido alguns contra tempos devido ao mal tempo que nos custou deixar de lado o ataque ao pico do Breu e a parte alta da cachoeira de tabuleiro foi mais uma caminhada adorável na companhia de pessoas especiais que acrescentam alguma coisa em nossas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário