quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Travessia Airuoca - Baenpedi



Para o feriado da independência tínhamos programado para tentar novamente realizar a travessia da Serra Fina, más parte do grupo estava desanimado e não queriam esperar por uma previsão do tempo mais precisa, se é que existe, para então confirmar esta investida.

No final de semana anterior ao feriado decidimos ( eu, Vivi, Rafael e Sandro) que o melhor seria partir logo para o plano B ao invés de esperar pelo bom humor do São Pedro. Assim, decidimos que tentaríamos realizar a travessia da Serra do Papagaio.
Pesquisamos por relatos, más encontramos poucos no senhor sabe tudo (Google). Encontramos apenas dois e não estavam completos. Em um deles tiverem que abortar e em outro os trilheiros realizaram apenas ¼ da travessia em um final de semana.
Por sorte encontramos um trecklog e o nosso amigo Jorge Soto mandou o seu relato, este completo, com informações mais que valiosas. Tínhamos tudo o que precisávamos, agora era esperar pelo tão sonhado dia.
De posse das informações, verificamos que o principal problema desta travessia era chegar ao bairro de Vargem, distante 40 km do centro de Baependi. Felizmente conseguimos uma Kombosa que realizaria nosso resgate no distante bairro de Vargem. Telefone de contato (35) 9944-1601
Partimos de São Paulo eu, Vivi, Sandro e Rafael às 22h30 da sexta-feira e seguimos rumo Aiuruoca, onde chegamos ás 3h30 da madrugada de Sábado. Dormimos na simpática pousada do Sr. Frank, pelo preço de R$ 15,00. Em outro carro saindo de São José dos Campos, partiram o Danilo e o Bruno.


1ª Dia – Cachoeira dos Garcias e subida ao Pico do Papagaio.

Na manhã de sábado despertamos com a chegada de um grupo de amigos que ficariam hospedados na pousada e que trouxeram de carona as duas ultimas integrantes do nosso grupo, a Val e a Baby. Como não tínhamos muita pressa, programamos para curtir a manhã de sábado na cachoeira dos Garcias e lá encontraríamos os nossos amigos de São José, que estavam acampados em sua margem.
Ao chegamos à cachoeira por volta das 10h30 e ficamos curtindo aquela ensolarada manhã de sábado até o meio dia e meio ao lado da galera que passaria o feriado no conforto de uma cama quente. Tentamos, sem sucesso, arrastar o Perin conosco, mas este não queria passar perrengue no feriado, azar o dele rs.
No horário marcado seguimos para a cidade, onde realizamos nosso almoço calmamente e retornamos à pousada para terminar de ajeitar nossas mochilas.
Às 3 da tarde chegou a kombosa que nos levaria até o inicio de umas das dezenas de trilha que leva ao pico do Papagaio. Este pico, ao contrário do seu homônimo da Ilha Grande, leva este nome não por parecer um papagaio, mas sim porque os papagaios, que habitam a região, fazem seus ninhos nas fendas do seu enorme pico rochoso.
 Iniciamos a subida ao pico do papagaio às 16h. A trilha que escolhemos não tem muito erro, parece uma avenida de tão batida que é. 
No meio da subida nos deparamos com uma casa, que aproveitei para beber água e molhar a cabeça, já que o calor era intenso para uma tarde inverno. Seguindo em frente, antes de cruzar a porteira vi um pé de limão galego e peguei alguns, pois seriam bem úteis com a calabresa que eu carregava na minha mochila e para a pinga que o Sandro carregava.
Após a porteira encontramos uma bifurcação. Seguimos a trilha da esquerda sempre em direção ao paredão de pedra. Mais acima, novamente outra bifurcação, nesta seguimos novamente a trilha da esquerda.
Nosso objetivo era chegar ao cume do pico do papagaio, mas o horário avançado e a certeza que não encontraríamos lugar para todas as sete barracas no cume, fez com que mudássemos de planos. 
A luz do dia logo se foi e ainda não estávamos nem perto do nosso objetivo e passamos a caminhar na mata sem a luz do dia. Passamos então a procurar qualquer clareira que comportasse as sete barracas do grupo.
Após contornar no Pico do Papagaio, já próximo da trilha que nos levaria ao cume, encontramos uma clareira que comportava nosso grupo. Eram 19 horas e decidimos acampar ali mesmo.
Acampamento montado agora era hora de preparar nosso suculento jantar. Mas antes todos contribuíram com alguma coisa para petiscarmos. Queijo gorgonzola, azeitona, salame e é claro um bom vinho.
Mais tarde, todos foram preparar suas jantas. Eu e a Vivi fizemos um suculento jantar com direito arroz, lentilha e salsicha Viena.
Após o jantar cada um foi se recolher em sua barraca aos poucos, até sobrar apenas eu e o Rafael. A noites estava estreladíssima e mesmo a temperatura que caia rapidamente à medida que a madruga ia chegando, não me impediu de deitar no chão e ficar apreciando todas aquelas luzes acima de minha cabeça, até ensaiei um bivaque, mas o saco de dormir que eu estava não ajudava muito e logo me recolhi.

2ª dia – Pico do Papagaio até... aonde desse

Acordamos ás 5 da manhã, tomamos nosso café e arrumamos nossas tralhas para seguir em frente. Por volta das sete e meia da manhã quando partimos para o pico do papagaio. 
Em nossa programação, teríamos que chegar ao acampamento nº 2 que estava em nosso trecklog, mas não tínhamos nenhuma informação de como era este local, por isso decidimos seguir até aonde desse.

Seguimos a trilha rumo ao pico, em menos de meia hora interceptamos a trilha que levava ao cume. Viramos à direita e logo passamos a procurar um bom local para esconder nossas mochilas, já que para continuar a travessia, teríamos que voltar pelo mesmo lugar.

A trilha aqui também não tem erro, é só tocar para frente. Em aproximadamente 40 minutos chegamos ao mirante do pico do papagaio. A paisagem lá de cima é fantástica, mas as inúmeras queimadas na mata diminuíam nossa visão.
Por volta das dez horas iniciamos a descida e seguimos rumo ao retiro dos pedros. Resgatamos nossas mochilas e pegamos a trilha rumo à pedra partida.
Seguindo pela trilha que interceptamos de manhã, após contornarmos um cocuruto pela direita encontramos a trilha. Na primeira bifurcação seguimos a esquerda, sempre em sentido a pedra partida. A trilha da direita é uma das que levam até o cume e seguindo nela por mais ou menos 500 metros há um ponto d’água.
Logo alcançamos a base da pedra partida e seguimos por uma trilha que a contorna pela esquerda. Mais adiante encontramos com um muro feito de pedra para impedir que os gados da região entrassem na densa floresta do outro a lado.
Seguimos em direção ao retiro dos pedros, que não demoraríamos a encontrar-lo. Como eram quase meio dia e meio, decidimos parar para almoçar, já que ali tinha tudo do que precisávamos. Sombra e água.
Preparamos nossos almoços e ficamos observando o pico do tamanduá-bandeira (o ponto culminante da serra do papagaio). Enquanto descansavamos, a Val aproveitou o sol para pegar um bronzeado rs.
Às duas horas retomamos nossa caminhada. A trilha continua depois do riacho. Após cruzar-lo viramos à direita e seguimos em direção ao pico do canjica.
Sol não estava para brincadeira e achei que aquela tarde seria de sofrimento puro, pois achei que andaríamos por um bom tempo em campo aberto. Mas para nossa sorte não foi isso que ocorreu.
Caminhamos por uns 30 minutos em campo aberto e logo entramos em uma mata. Não demorou muito e já saímos dela. Mas adiante um novo “túnel” de mata, neste passamos um bom tempo nele, creio que caminhamos nele por uma hora, o suficiente para o sol dar uma trégua.
Ao sairmos em mais um descampado tivemos uma bela visão da cachoeira do fundão lá do outro lado do vale, pausa para fotos. Seguimos em frente e por volta das quatro e meia da tarde saímos em mais outro descampado, este chamou a atenção por ter um totem gigantesco quase colado na mata.
A esquerda deste descampado passa um rio, onde aproveitamos para abastecer nossos cantis e refrescar a nuca.
Não demoramos muito e continuamos a caminhada pela estradinha, mas logo o Rafael viu que a trilha continuava por outro lado, mas viu que aquela estrada daria no mesmo lugar, más em contra partida daria uma volta enorme.
Decidimos retornar e encontrar a trilha. Seguindo as informações do GPS, fomos levados até o final do descampado em direção a uma mata fechada. Porém em primeiro momento não encontramos a trilha. O Rafael, para não perdemos tempo, propôs que contornássemos aquela “ilha” de mata, mas não obtivemos resultado.
O dia estava para terminar e tínhamos pouco tempo de luz solar e aquele corre-corre frenético de todos procurarem a trilha ou seguir aqueles que estavam procurando-a, fez-me lembrar daquele episódio do pica-pau em que o guardinha fica louco com ele e fiquei falando “siga aquele carro, siga aquele chinês, siga, siga!” rs para a alegria da Vivi que não parava de rir com minhas palhaçadas rs.
Voltamos até o totem e decidimos acampar ali mesmo já que o local era ótimo e tinha água por perto também. Antes de montarmos as barracas o Rafael encontrou a trilha em meio à mata fechada. 
Acampamento montado, agora era hora de preparar nosso jantar. Nesta noite eu e a Vivi realizaríamos nosso sonho de comer um bacalhau na trilha. Sim! Bacalhau!
Compramos lascas de bacalhau, já que é mais fácil para tirar o sal. Deixamos de molho desde a hora no almoço de molho na água em uma garrafa pet, depois fritamos no azeite e ainda aproveitamos a água para cozinhar o arroz e por ultimo colocamos azeitonas pretas e verdes. Nem preciso falar que foi a melhor comida que já comi em um acampamento e acredite, não gastamos mais que 5 reais para preparar todo esse banquete.
Após o jantar, mais vinho e petisco até que todos se recolhessem em suas barracas. Ao contrário da noite anterior, esta estava mais úmida e com isso a sensação de frio era maior.

3º dia Rumo à cachoeira da Juju. 

Acordamos novamente bem cedo (5h00), pois o Sandro queria chegar até a base do morro do chapéu naquele dia. Mas demoramos muito para levantar acampamento.
Pegamos a trilha que procurávamos ontem. O problema para encontrar-la se deve ao fato dela estar quase fechada, mas uma vez nela não tem erro, basta seguir em frente. Para encontrar a entrada dela, de frente ao totem siga em direção a mata e chegando nela procure caminhando para a esquerda, pois não tem muita referência
Seguimos por esta trilha até sair em outro descampado, aqui a trilha fecha novamente e seguimos as informações do GPS, fomos abrindo-a no peito. Descemos em direção ao vale já avistando a estradinha que poderíamos ter seguido ao invés de ir pela trilha.
Ao chegar ao vale cruzamos uma mata e saímos no descampado que estava marcado no GPS como acampamento nº2. A trilha depois deste trecho é bem demarcada e seguimos em um sobe e desce até depararmos com um rio e a trilha se perder novamente. Procura daqui, procura ali e finalmente a encontramos, bem distante de onde o GPS apontava.
Cruzamos o rio e seguimos para um pouco mais para frente encontrar outro rio, este bem propicio para um bom banho. Não deu outra pausa para um belo banho de água gelada.
Brunão não perdeu tempo e logo se jogou na água. Ao entrar em contato com ela, anunciou como ela estava gelada. Isso desencorajou alguns, mas eu e o Danilo logo entramos também.
Ficamos curtindo os poços por uns 30 minutos e seguimos novamente. Para nossa surpresa logo mais a frente, nem 20 minutos depois, encontramos outra cachoeira, esta enorme.
Para continuar a trilha era necessário cruzar este rio. O Sandro e o Bruno entraram na água para ajudar a atravessar as mochilas, porém enquanto eles se matavam ali naquele passa-passa de cargueira frenético, eu subi um pouco o rio e apenas tirei as minhas botas e pulei por cima das pedras e quando não dava para pular, não molhei mais que as canelas. Mais fácil, não?
Já do outro lado ajudei os dois que ainda estavam passando as mochilas. Todos os demais exceto a Vivi atravessaram a nado. Já a gatinha da Vivi, que morre de medo de água gelada, fez o mesmo caminho que eu.
Ficamos apreciando por um bom tempo o visual daquela cachoeira, que não sabíamos o nome e muito menos os guias de uma pousada que ali estavam com seus hospedes.
Às 14h partimos para a cachoeira do Juju, porém os guias da pousada informaram a trilha errada ou entenderam que queríamos chegar à parte baixa da cachoeira, percebemos o erro depois de uns 15 minutos de caminhada e tivemos que retornar até a cachoeira e subir o até o topo do morro.
No alto do morro encontramos o grupo do Ronald, que estava fazendo a travessia alagoas-aiuruoca. Incrível! É a segunda vez que o encontramos no meio da trilha, a outra foi na volta da Ilha Grande.
Poucos minutos de conversa e seguimos trilhando, até que às 15h20 resolvemos parar para almoçar em um rancho abandonado. Antes de almoçar o Sandro propôs que partiríamos até onde desse com luz do dia. Eu disse que não concordava, já que no GPS não constava nenhuma área de camping e achar lugar que comportasse as sete barracas no escuro, poderia ser um grande erro.
O Sandro dizia que estávamos atrasados, eu falei que não estávamos, já que da Juju até o morro do chapéu levaríamos cerca de 3 horas, segundo relato do Jorge. Então não precisávamos sair que nem loucos no escuro.
Assim, propus que se na cachoeira da Juju tivesse lugar para o grupo acampar seria uma ótima opção, já que todos estavam cansados do dia puxado que tivemos e estávamos pertinho dela. Caso não tivesse lugar para nós na cachoeira, seguiríamos até encontrar. A maioria concordou em pernoitar na juju, caso tivesse lugar.
Com a fome parcialmente saciada era a hora de seguirmos para o nosso próximo destino. Partimos ás 16h20. Em menos de meia hora já avistamos o rio que formava a cachoeira no vale abaixo.
Em vez de seguir a trilha óbvia que nos levaria até o nosso destino vale abaixo, sem forçar nossos joelhos, seguimos o trecklog que deu uma volta desnecessária e por um morro muito íngreme. Não entendi até agora porque o grupo, que disponibilizou esse trecklog, fez este caminho.
Chegamos à cachoeira e para nossa sorte havia espaço para o nosso grupo e ainda deu tempo de apreciar o por do sol lá da cachoeira. Enquanto os demais conversavam, fui tentar chegar à parte de baixo da cachoeira. Tentei acessar pelo lado esquerdo. Não tinha trilha, mas como a vegetação era rasteira, decidi ir assim mesmo, até o primeiro escorregão de uns 3 metros. 
Percebi que seria complicado e como a terra estava seca demais ao tentar segurar na vegetação, ela se desprendia facilmente da terra. Como estava sem lanterna e com pouco tempo de luz, decidi voltar, pois não queria me matar para subir aquela parede no escuro com as plantas se soltando.
Voltei e todos já estavam em suas barracas se trocando e tirando merecido descanso antes do jantar.
Como o dia foi muito cansativo, poucos ficaram por muito tempo fora de suas barracas e logo todos foram dormir, após preparem seus jantares.

4º dia – Cachoeira do Juju até Vargem.

Diferentemente dos outros dias, neste não acordamos tão cedo. Decidimos que acordaríamos de acordo com o sono de cada um, mas mesmo assim às 6 horas a maioria estava de pé.
Demorei um pouco para sair da barraca já que o frio estava intenso ainda. Por isso, eu e a Vivi aprontamos nosso café dentro da barraca mesmo e só saímos para terminar de desmontar acampamento.
Apesar da lentidão de todos, não saímos muito tarde. Às 8h30 já estávamos caminhando. 
Para continuar a trilha sentido morro do chapéu é necessário atravessar o rio e seguir a trilha morro acima. Após vencer este primeiro morro avistamos a cachoeira do Juju e outra cachoeira ao lado dela que dava a impressão que a água saia de dentro da terra.
Seguimos caminhando e apreciando a paisagem. Após vencer outro morro todos pararam para recuperar o fôlego. Eram 9h30 da manhã e resolvemos fazer alguns petiscos que sobraram em nossas mochilas.
Não houve miséria. Porções de salame, provolone, patê de atum e até bacon frito. Após essa parada inesperada, seguimos rumo ao morro do chapéu. A trilha desde a cachoeira até este morro é bem nítida, se perder aqui é bom parar de fazer trilhas.
Às 12h30 estávamos na base do morro do chapéu, como o dia estava nublado e o tempo era curto, já que tínhamos marcados com o resgate às 13h30, decidimos seguir direto para o Bairro de Vargem.
Danilo, Bruno e o Sandro desceram em disparada. Os demais desceram cada um em seu ritmo e às 14h todos já estavam tomando cerveja no primeiro bar que encontramos. 
Já na vila, ainda tive tempo de aprontar uma das minhas. Andando pela rua, cruzei com uma mangueira de água no meio dela e não tinha sinal do seu dono. Assim, olhei para a mangueira, depois olhei para a Vivi e não pensei duas vezes para pegar aquela mangueira e dar um belo banho em minha querida amiga. Mais risadas é claro rs.
Todos os relatos estudados informavam que o bairro de Vargem parecia ter parado no tempo, já que sua estrutura era bem precária e sua economia estava falida com a quebra da Parmalat.
Porém, a crise de outrora deu lugar ao crescimento econômico, pois encontramos inúmeras motos novas, carros do ano, alguns bares, tratores trabalhando pesado, ruas sendo calçadas e uma escola muito bem cuidada. Sinais claro que realmente nosso país está crescendo.
Enfim, neste feriado pudemos constatar que a classificação de a travessia mais bela deste país, segundo Sergio Beck, está em boas “mãos”.



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